Queridos ouvintes da Rádio Sociedade FM 105,5, a sua rádio comunitária de Tinguá, sintonizados no Programa "A Voz Católica de Tinguá":
Como já aconteceu inúmeras vezes, no domingo passado, após o término da Santa Missa, uma pessoa me disse que a homilia a havia tocado de maneira especial, que as palavras ditas haviam sido dirigidas diretamente a ela. Na verdade, a Palavra de Deus é SEMPRE dirigida a todos nós, no entanto, nem sempre iluminamos as nossas vidas com ela, seja para nos converter ao projeto de Deus, dando um novo sentido à vida, seja para compreendermos nossas vidas à partir dela.
O Evangelho que acabamos de ouvir, em que Jesus diz aos apóstolos da importância da renúncia de si mesmo e do desapego às coisas da vida para seguir a Jesus e a seu projeto, prometendo como recompensa cem vezes mais nessa vida COM PERSEGUIÇÕES (estas, naturalmente, vindas não de Deus, mas dos que rejeitam a Deus e seu projeto), prometendo ainda a vida eterna, me toca de maneira especial, pois vivi e vivo diariamente esta verdade e a posso, portanto testemunhar.
No segundo semestre de 1997, após ter feito a minha segunda viagem ao exterior - uma peregrinação a Santuários italianos e a Mediugórie, onde acredita-se - e eu também acredito - a Virgem Maria se manifestou a algumas crianças e jovens - senti de maneira muito forte o meu chamado vocacional, mas que não foi acolhido pelo bispo da minha diocese de origem, que julgou-me velho demais para ser vocacionado. No entanto, neste mesmo ano de 1997, o então bispo da Diocese de Nova Iguaçu, Dom Werner Siebenbrok, que me conhecera através de meu pároco, Pe. Francisco Carlos Consorte, convidou-me a vir para cá, entrar para o Seminário Paulo VI e em 4 anos ser ordenado sacerdote.
Se com o bispo da Diocese do Campo Limpo eu acreditei que não era vontade de Deus que eu fosse padre, com Dom Werner aconteceu o contrário: acreditei que a vontade de Deus era que eu fosse um padre para servir aqui na Baixada Fluminense e não em São Paulo, onde eu vivera desde que nascera.
Mas havia um problema: minha vida estava toda estruturada e eu já assumira o compromisso com a escola em que lecionava para o ano seguinte, 1998. Eu era independente financeiramente, morava sozinho num belo sobrado em um condomínio fechado, dentro do qual minha vida estava resumida, com uma decoração agradável e atraente, muitos objetos de arte, mais de 70 quadros nas paredes e um quarto transformado em meu estúdio particular, forrado de estantes com mais de 2.000 livros, que eu fora adquirindo ao longo da vida. Como abandonar tudo imediatamente? Dom Werner, então, concedeu-me um ano para o discernimento. E eu decidi nesse ano de 1998 que eu realmente iria deixar tudo e partir para Nova Iguaçu.
Quando para aqui vim, toda a minha mudança - pouquíssima roupa, alguns livros de espiritualidade, 2 quadros ligados à fé e meu computador - coube em um carro com que um paroquiano de São Paulo me trouxe. Foi-me destinado um dormitório no Seminário Paulo VI menor que a minha cozinha. No entanto, eu me senti tão livre naquele momento, que se meu bispo me enviasse para a China eu teria ido sem qualquer coisa que me impedisse.
Fui designado para estagiar pastoralmente nos finais de semana na Paróquia São Sebastitão, de Olinda, Nilópolis, onde durante 2 anos fiz uma experiência de amor dado e recebido, gratuidade e serviço que me marcou para sempre. Ainda hoje tenho um amor e uma gratidão imensos ao povo daquela paróquia.
A Palavra de Deus, que ouvimos a pouco, foi-se então se cumprindo na minha vida. Eu deixara uma casa e Deus me dera em troca pelo menos 3: o seminário, a casa paroquial e a casa de meu pai em São Paulo, onde havia um quarto a mim destinado para quando lá fosse. Eu disse pelo menos 3, pois havia muitos paroquianos que me ofereciam seus lares para eu lá ficar, caso necessitasse. Dexei meu trabalho de professor e Deus também multiplicou-me o trabalho, agora em sua Igreja: servi com alegria e dedicação seja em Olinda, seja no Seminário, em ambos fazendo muito além da minha obrigação, pois a vocação verdadeira nos leva a essa entrega total. Deixei minha família e amigos em São Paulo e estes foram multiplicados não 100 vezes, como prometeu o Evangelho, mas milhares de vezes. Hoje eu digo sem qualquer dúvida ou peso na consciência: a minha família é a Igreja, família imensa, que eu amo e por quem me sinto profundamente amado. Em relação ainda à família, eu senti de forma emocionante e marcante o cumprimento da promessa de Jesus no Evangelho de hoje no final do meu primeiro ano aqui na Baixada, quando se aproximava o Natal de 1999. Na Paróquia de São Sebastião, em Olinda, havia, entre tantos amigos, dois casais que sempre estavam juntos e que me tratavam com muito zelo e carinho: Valter e Maria, Fernando e Luzinete. Um dia me perguntaram onde eu iria passar o Natal e a minha resposta foi: "Com minha família." Um deles então me perguntou: "Qual delas?" Ainda hoje sinto-me emocionado com essa pergunta que expressou de forma tão marcante em minha vida o cumprimento da promessa de Deus. "Quem tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, campos, por causa de mim e do Evangelho, recebrá cem vezes mais agora, durante esta vida e no futuro a vida eterna".
Queridos irmãos e ouvintes deste programa católico, do fundo do meu coração eu digo: renunciando à minha vida anterior e abraçando a minha vocação, sinto que a vida eterna já começou.
Tinguá, 25 de maio de 2010
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