RECONCILIANDO FÉ E LITURGIA


Durante séculos, os cristãos viveram em seu dia a dia, em suas orações particulares, o tempo litúrgico sabiamente proposto pela Igreja, de forma a refletir, sobretudo em Tempos como do Advento, da Quaresma e da Páscoa, toda a riqueza do mistério da Encarnação de nosso Senhor Jesus Cristo.
Num processo gradual, mais particularmente a partir do século XIV, consolidou-se a separação entre o tempo litúrgico e a devoção pessoal dos cristãos católicos. Dessa forma, enquanto na Assembléia refletia-se um momento da vida de Jesus, em casa o povo vivia a sua fé desvinculada da Igreja. E esse “divórcio” entre liturgia e fé chegou aos nossos dias, como tradição passada de pai/mãe para filho/filha, sem que os fiéis se apercebessem dessa discrepância.
Conscientes desse fato, cabe a nós chamar a atenção do santo povo de Deus, que deseja progredir sempre na fé, para a reconciliação fé-liturgia em suas orações e devoções particulares.
Assim, como exemplo, apresentamos a oração do terço. Foi-nos ensinado que às segundas e quintas-feiras devemos meditar os mistérios gozosos
[1]; às terças e sextas-feiras, os mistérios dolorosos; às quartas-feiras, sábados e domingos, os mistérios gloriosos. Esta divisão é válida sobretudo no Tempo Comum, exceto em dias especiais de Festa. Mas nos outros Tempos litúrgicos, esta divisão promove o divórcio fé-liturgia.
Como então devemos rezar o terço?
No Advento, em todos os dias da semana devem ser meditados os mistérios gozosos. Na Quaresma e em toda a Semana Santa, devemos meditar os mistérios dolorosos. Em todo o Tempo Pascal, os mistérios gloriosos.
Em datas de festa, mesmo dentro de determinado Tempo, devemos meditar o mistério correspondente. No dia 25 de março, por exemplo, festa da anunciação, embora dentro da Quaresma, devemos meditar os mistérios gozosos, nos quais se encontra o mistério da Anunciação.
Este foi apenas um exemplo de reconciliação fé-liturgia. Que nossa vida de oração caminhe lado a lado com a nossa Igreja.

março de 2001

[1] Lembramos que este pequeno texto foi publicado antes do Papa João Paulo II escrever sua Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariæ, publicada em outubro de 2002. Embora não fosse essa a preocupação do Santo Padre, no item 38 da referida Carta, o Papa acena para o que tratamos neste nosso texto: “Esta indicação [da distribuição da meditação dos mistérios segundo os dias da semana], porém, não pretende limitar certa liberdade de opção na meditação pessoal e comunitária, segundo as exigências espirituais e pastorais e sobretudo os coincidências litúrgicas que possam sugerir oportunas adaptações”.

Nenhum comentário: