ANO SANTO DA
MISERICÓRDIA
“Jesus
Cristo é o rosto da misericórdia do Pai”. Com estas palavras, o Papa Francisco
inicia a Bula de Proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, com a
qual ele convida toda a Igreja a celebrar o Ano Santo da Misericórdia.
Além
de nos recordar no final do primeiro parágrafo que “Jesus de Nazaré revela a
misericórdia de Deus”, o Santo Padre inicia o segundo afirmando que “Precisamos
contemplar o mistério da misericórdia”, apresentando-a como “fonte de alegria,
serenidade e paz”. E mais: a misericórdia é “condição da nossa salvação”. Por
essa importância fundamental salvífica, Francisco vai explicitando toda uma
gama de sentidos para a misericórdia: 1) é palavra que revela o mistério da
Santíssima Trindade: 2) é o ato último e supremo pelo qual Deus vem ao nosso
encontro; 3) é a lei fundamental que mora no coração de cada pessoa, quando vê
com olhos sinceros o irmão que encontra no caminho da vida; 4) é o caminho que
une Deus e o homem, porque nos abre o coração à esperança de sermos amados para
sempre, apesar da limitação do nosso pecado.
Em
seguida, o Papa expõe a razão pela qual proclamou esse Jubileu Extraordinário
da Misericórdia: porque “há momentos em que somos chamados, de maneira ainda
mais intensa, a fixar o olhar na misericórdia, para nos tornarmos nós mesmos um
sinal eficaz do agir do Pai”. Assim, este Ano Santo se apresenta “como tempo
favorável para a Igreja, a fim de tornar mais forte e eficaz o testemunho dos
crentes”.
A
abertura mundial desse Ano Santo será no dia 8 de dezembro de 2015, Solenidade
da Imaculada Conceição, com a abertura da Porta Santa na Basílica de São Pedro,
no Vaticano. Segundo o Papa Francisco, “após o pecado de Adão e Eva, Deus não
quis deixar a humanidade sozinha e à mercê do mal. Por isso pensou e quis Maria
santa e imaculada no amor, para que se tornasse a Mãe do Redentor do homem.
Perante a gravidade do pecado, Deus responde com a plenitude do perdão. A
misericórdia será sempre maior do que qualquer pecado, e ninguém pode colocar
um limite ao amor de Deus que perdoa”. A Porta Santa, “será então uma Porta da
Misericórdia, onde qualquer pessoa que entre poderá experimentar o amor de Deus
que consola, perdoa e dá esperança”. Mais adiante, sobre essa data de abertura
do Jubileu da Misericórdia, o Papa apresenta mais uma razão para a sua escolha:
“porque é cheia de significado na história recente da Igreja”, citando o
cinqüentenário da conclusão do Concílio Ecumênico Vaticano II, para “manter
vivo aquele acontecimento”, que marca “um percurso novo em sua história”. Após
refletir sobre a importância do Concílio Vaticano II, o Papa escreve: “Toda
esta riqueza doutrinal orienta-se apenas a isto: servir o homem, em todas as
circunstâncias da vida, em todas as suas fraquezas, em todas as circunstâncias”.
No
Terceiro Domingo do Advento, dia 13 de dezembro, o Papa abrirá a Porta Santa na
Catedral de Roma (a Basílica de São João de Latrão) e, em seguida, nas outras
Basílicas Papais. E ele estabeleceu que “no mesmo domingo, em cada Igreja particular
– na Catedral, que é a Igreja-Mãe para todos os fiéis, ou na Concatedral ou
então numa Igreja de significado especial – se abra igualmente, durante todo o
Ano Santo, uma Porta da Misericórdia. Aqui na Diocese de Nova Iguaçu, a
abertura desse Ano Santo será na Catedral de Santo Antônio, durante a missa a
ser celebrada nesse mesmo dia 13 de dezembro, às 19:00 horas. Dessa forma,
escreve Francisco na Bula, o Jubileu será celebrado quer em Roma, quer nas
Igrejas particulares, como sinal visível da comunhão da Igreja inteira. As
paróquias são convidadas a celebrar a abertura do Ano Jubilar da Misericórdia
na missa paroquial de Natal, na noite do dia 24 de dezembro.
“O
Ano Jubilar terminará na Solenidade litúrgica de Jesus Cristo, Rei do Universo,
20 de novembro de 2016. Naquele dia, ao fechar a Porta Santa, animar-nos-ão,
antes de tudo, sentimentos de gratidão e agradecimento à Santíssima Trindade
por nos ter concedido este tempo extraordinário de graça”. No mesmo parágrafo,
o Sumo Pontífice expressa a sua expectativa de resultado desse Ano Santo:
“Quanto desejo que os anos futuros sejam permeados de misericórdia para ir ao
encontro de todas as pessoas levando-lhes a bondade e a ternura de Deus! A
todos, crentes e afastados, possa chegar o bálsamo da misericórdia como sinal
do Reino de Deus já presente no meio de nós”.
Citando
Santo Agostinho – “É próprio de Deus usar de misericórdia e, nisto, se
manifesta de modo especial a sua onipotência” –, escreve Francisco que estas
palavras “mostram como a misericórdia divina não seja, de modo algum, um sinal
de fraqueza, mas antes a qualidade da onipotência de Deus.”
Em
seguida, o Papa elenca uma série de citações do Antigo e do Novo Testamentos,
nas quais aparece a misericórdia de Deus, citando, naquele, principalmente os
Salmos, nos quais “a misericórdia de Deus não é uma idéia abstrata, mas uma
realidade concerta, pela qual Ele revela seu amor como o de uma pai e de uma
mãe que se comovem pelo próprio filho até o mais íntimo das suas víceras. É
verdadeiramente caso para dizer que se trata de um amor ‘viceral’. Provém do
íntimo como um sentimento profundo, natural, feito de ternura e compaixão, de
indulgência e perdão”. Em seguida, citando o Novo Testamento, Sua Santidade nos
recorda que a “missão que Jesus recebeu do Pai foi a de revelar o mistério do
amor divino na sua plenitude. ‘Deus é amor” (1Jo 4,8.16): afirma-o, pela
primeira e única vez em toda a Escritura, o evangelista João. Agora este amor
tornou-se visível e palpável em toda a vida de Jesus”. Recorrendo aos
Evangelhos, o Papa nos lembra da intensa compaixão do Senhor pela multidão de
pessoas que o seguia. “Em todas as circunstâncias, o que movia Jesus era apenas
a misericórdia, com a qual lia o coração dos seus interlocutores e dava
resposta às necessidades mais autênticas que tinham”. “Nas parábolas dedicadas
à misericórdia, Jesus revela a natureza de Deus como a de um Pai que nunca se
dá por vencido enquanto não tiver dissolvido o pecado e superado a recusa com a
compaixão e a misericórdia. Mencionando a parábola do “servo cruel” que teve
sua dívida perdoada, mas que não teve a mesma compaixão com quem lhe devia uma
quantia muito menor, Francisco escreve que essa “parábola contém um ensinamento
profundo para cada um de nós. Jesus declara que a misericórdia não é apenas o
agir do Pai, mas torna-se o critério para entender quem são os seus verdadeiros
filhos. Em suma, somos chamados a viver de misericórdia, porque, primeiro, foi
usada misericórdia para conosco. O perdão das ofensas torna-se a expressão mais
evidente do amor misericordioso e, para nós cristãos, é um imperativo de que
não podemos prescindir”. E continuando as citações evangélicas, escreve o Papa
Francisco: “’Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia’ (Mt
5,7) é a bem-aventurança a que devemos inspirar-nos, com particular emprenho,
neste Ano Santo”.
Nos
parágrafos seguintes, duas afirmações feitas pelo Papa reforçam a compreensão
da misericórdia de Deus: “Na Sagrada Escritura, como se vê, a misericórdia é a
palavra-chave para indicar o agir de Deus para conosco”; e “A arquitrave que
suporta a vida da Igreja é a misericórdia”, pois “sem o testemunho do perdão,
resta apenas uma vida infecunda e estéril, como se se vivesse num deserto
desolador. (...) O perdão é uma força que ressuscita para nova vida e infunde a
coragem para olhar o futuro com esperança”.
Um
dos sinais peculiares no Ano Santo é a peregrinação, “enquanto caminho que cada
pessoa realiza na sua existência. A vida é uma peregrinação e o ser humano é um
(...) peregrino que percorre uma estrada até a meta desejada”. Por isso o Papa
a cada pessoa que faça, “segundo as próprias forças, uma peregrinação” para
chegar à Porta Santa, tanto em Roma como em cada um dos outros lugares”.
O lema deste
Ano Santo é “Misericordiosos como o Pai” (cf. 6,36) e é à luz desta palavra do
Senhor que devemos viver este ano. Como ensina Francisco, “Na misericórdia,
temos a prova de como Deus ama”.
Retomando
um de seus temas preferidos em suas pregações e escritos, Sua Santidade nos diz
que “Neste Ano Santo, poderemos fazer a experiência de abrir o coração àqueles
que vivem nas mais variadas periferias existenciais, que muitas vezes o mundo
contemporâneo cria de forma dramática. (...) Quantas feridas gravadas na carne
de muitos que já não têm voz, porque o seu grito foi esmorecendo e se apagou
por causa da indiferença (grifo
nosso) dos povos ricos. Neste Jubileu, a Igreja se sentirá chamada ainda mais a
cuidar destas feridas, aliviá-las com o óleo da consolação, enfaixá-las com a
misericórdia e tratá-las com a solidariedade e a atenção devidas. Não nos
deixemos cair na indiferença que
humilha, na habituação que anestesia o espírito e impede de descobrir a
novidade, no cinismo que destrói. Abramos os nossos olhos para ver as misérias
do mundo, as feridas de tantos irmãos e irmãs privados da própria dignidade e
sintamo-nos desafiados a escutar o seu grito de ajuda. As mãos apertem as suas
mãos e levemo-los a nós para que sintam o calor da nossa presença, da amizade e
da fraternidade. Que o seu grito se torne o nosso e, juntos, possamos romper a
barreira da indiferença que
frequentemente reina soberana para esconder a hipocrisia e o egoísmo”. Este
talvez seja o parágrafo mais significativo do documento, que nos dá pistas de
ação concreta para este Ano Jubilar.
E
continua o Papa em sua Bula a sua apresentação de “pistas” concretas: “É meu
desejo sincero que o povo cristão reflita durante o Jubileu sobre as obras de
misericórdia corporais e espirituais. Será um modo para despertar a nossa
consciência. (...) Redescubramos as obras
de misericórdia corporais: dar comida aos famintos, dar de beber a quem tem
sede, vestir os nus, acolher o estrangeiro, assistir aos doentes, visitar os
presos, sepultar os mortos. E não nos esqueçamos das obras de misericórdia espirituais: aconselhar os duvidosos, ensinar
os ignorantes, admoestar os pecadores, consolar os aflitos, perdoar as ofensas,
suportar com paciência as injustiças, rezar a Deus pelos vivos e pelos mortos!.
Mais
adiante, Francisco, ainda orientando a prática para o Ano Santo, diz que “a
Quaresma deste Ano Jubilar seja vivida mais intensamente como tempo forte para
celebrar e experimentar a misericórdia de Deus, a partir das páginas da Sagrada
Escritura, citando o Papa, particularmente, os profetas Miquéias (Mq 7,18-19) e
Isaías (Is 58,6-11).
Sua
Santidade solicitou, também, que “a iniciativa ’24 horas para o Senhor’, que será celebrada na sexta-feira e no
sábado anteriores ao IV Domingo da Quaresma (dias 04 e 05 de março de 2016)
deve ser incrementada nas Dioceses. (...) ponhamos novamente no centro o
sacramento da Reconciliação, porque permite tocar sensivelmente a grandeza da
misericórdia. Será, para cada penitente, fonte de verdadeira paz interior”.
Ainda
sobre o sacramento da Reconciliação, o Papa insiste “com os confessores para
que sejam um verdadeiro sinal da misericórdia do Pai. Ser confessor não se
improvisa. Tornamo-nos tal quando começamos, nós mesmos, por nos fazer
penitentes em busca do perdão. Nunca esqueçamos que ser confessor significa participar
da mesma missão de Jesus e ser sinal concreto da continuidade de um amor divino
que perdoa e salva. (...) Os confessores são chamados a estreitar a si aquele
filho arrependido que volta a casa e a exprimir a alegria por tê-lo
reencontrado. Não nos cansemos de ir também ao encontro do outro filho, que
ficou fora incapaz de alegrar-se, para lhe explicar que o seu juízo severo é
injusto e sem sentido diante da misericórdia do Pai que não tem limites”.
O
Papa Francisco revelou, em sua Bula, que tem a intenção, na Quaresma do Ano
Santo, de enviar os Missionários da Misericórdia, que serão “sacerdotes a quem
darei autoridade de perdoar mesmo pecados reservados à Sé Apostólica, para que
se torne evidente a amplitude do seu mandato. (...) Na sua missão, deixar-se-ão
guiar pelas palavras do Apóstolo: ‘Deus encerrou todos na desobediência, a fim
de usar de misericórdia para com todos’ (Rm 11,32).” Dirigindo-se aos bispos, Francisco
pediu “que convidem e acolham estes Missionários, para que sejam, antes de tudo,
pregadores convincentes da misericórdia”. E pediu ainda que sejam organizadas,
nas dioceses, “missões populares”, para que “estes Missionários sejam
anunciadores da alegria do perdão”.
O
desejo do Papa é que “a palavra perdão possa chegar a todos e a chamada para
experimentar a misericórdia não deixe ninguém indiferente”. Este convite ao
perdão e à conversão, Sua Santidade dirige com insistência maior “àquelas
pessoas que estão longe da graça de Deus pela sua conduta de vida”, lembrando
de modo particular dos “homens e mulheres que pertencem a um grupo criminoso,
seja ele qual for”, pedindo-lhes que mudem de vida. “O mesmo convite chegue
também às pessoas defensoras ou cúmplices da corrupção’, pois “a corrupção
impede de olhar para o futuro com esperança, porque, com sua prepotência e
avidez, destrói os projetos dos fracos e esmaga os mais pobres”.
“O
Jubileu inclui também a referência à indulgência”, escreve o Papa quase ao
final da Bula. “Viver a indulgência mo Ano Santo significa aproximar-se da misericórdia
do Pai, com a certeza de que o seu perdão cobre toda a vida do crente’.
Explicando o sentido da indulgência, Francisco diz que “No sacramento da
reconciliação, Deus perdoa os pecados, que são verdadeiramente apagados; mas o
cunho negativo (conseqüências) que os pecados deixaram em nossos comportamentos
e pensamentos permanece. A misericórdia de Deus, porém, é mais forte também do
que isso. Ela torna-se indulgência do Pai, através da Esposa de Cristo, alcança
o pecador perdoado e liberta-o de qualquer resíduo das conseqüências do pecado,
habilitando-o a agir com caridade, a crescer no amor em vez de recair no
pecado”.
Sendo
um homem de paz e diálogo, O Papa Francisco não poderia deixar de falar sobre a
relação com outras religiões e afirma que “A misericórdia possui um valor que
ultrapassa as fronteiras da Igreja”, citando especialmente “o judaísmo e o
islamismo que a consideram um dos atributos mais marcantes de Deus”.
Continuando, “Que possa este Ano Jubilar, vivido na misericórdia, favorecer o encontro
com estas religiões e com as outras nobres tradições religiosas”.
Encerrando
a Bula, O Papa faz referência a Maria e aos Santos e Beatos da Igreja: “Ao pé
da cruz, Maria, juntamente com João, o discípulo amado, é testemunha das
palavras de perdão que saem dos lábios de Jesus”. E sobre os Santos e Beatos,
estes “fizeram da misericórdia a sua missão vital.”
“Neste
Jubileu, deixemo-nos surpreender por Deus. Ele nunca cansa de escancarar as
portas do seu coração, para repetir que nos ama e deseja partilhar conosco a
sua vida.
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