OS DOIS REMÉDIOS DE
SÃO VICENTE DE PAULO PARA A CRISE DE FÉ[1]
São Vicente de
Paulo (1581-1660) é chamado de Apóstolo da Caridade devido às obras de
misericórdia que desenvolveu ao longo de sua vida. Na Capela da Medalha
Milagrosa, na rue du Bac, em Paris, há uma imagem com um relicário contendo o
coração incorrupto do Santo, um sinal da sinceridade de seu amor aos pobres.
As pequenas
biografias de São Vicente de Paulo dadas a público por diversas editoras, não
conseguem passar ao leitor a verdadeira vida do santo, acontecendo o mesmo com
a maioria das biografias de outros santos. São textos piedosos que não traduzem
a humanidade dos santos e suas fraquezas, apenas as suas virtudes. No entanto, ao
mesmo tempo em que nos causa admiração, também nos coloca em uma situação de
impossibilidade de sermos santos, devido aos nossos pecados e fraquezas,
reconhecidos por nós. É justamente ao sabermos que os santos foram iguais a
nós, inclusive nas fraquezas, e que conseguiram santificar-se, que nos permitem
tê-los como referências de seguimento a Cristo. Se eles tiveram os mesmos
defeitos que nós e conseguiram dominá-los, a santidade também passa a estar ao
nosso alcance.
Estou, no
momento, lendo uma biografia de São Vicente de Paulo (cf. nota de rodapé),
muito bem fundamentada, com mais de 500 páginas, que apresenta as fraquezas e
as virtudes desse santo. Essa biografia descreve dois remédios que São Vicente,
em sua crise de fé aos 30 anos, receitou a si mesmo e que transcrevo agora.
“(...) Ao
aproximar-se dos 30 anos de idade, a fé já não passa para ele [São Vicente de
Paulo] de uma casca vazia. Ele sente sua vida ruir.
Sabemos
por seus biógrafos como ele saiu do túnel. Mantendo em plena noite espiritual a
convicção de que tudo aquilo não passa de uma provação que chegará ao fim – o
que nos faz pensar em suas orações na Barbaria –, ele prescreve para si mesmo
dois remédios. Primeiro, escreve num
papel o texto do CREDO e o leva ao
coração, combinando com Deus quem toda vez que levar a mão ao peito,
significará que abre mão da tentação. O segundo
remédio é o amor aos pobres: ele redobra a atenção aos doentes do Hospital da
Caridade, ao qual comparece diariamente. Mas só isso não basta, pois a tentação
voltaria com toda força em sua primeira estada com os Gondi. Ele só poderá
livrar-se dela ao tomar a decisão irrevogável de dedicar a vida aos pobres,
‘para honrar ainda mais o Filho de Deus e seguir de maneira mais constante o
exemplo que ele nos deixou’ (Collet, Pierre, La Vie de saint Vicent de Paul, Nancy, 1748,
v.2]”.
Uma receita
que com certeza nos ajudará muito na crise de fé pela qual todos nós passamos
ao menos em um momento de nossa vida. Que essa experiência partilhada de São
Vicente de Paulo nos ajude em nossa santificação diária.
Pe. Nelson Ricardo Cândido dos Santos
05 de maio de 2017
[1]
GUILLAUME, Marie-Joëlle, São Vicente de
Paulo – uma biografia. 1.a ed., Rio de Janeiro, 2017, p.99.
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