DEUS, UMA REALIDADE CONCRETA?


            No dia 22 de julho deste ano do Senhor e Nacional Mariano de 2017, nosso bispo D. Luciano esteve na Paróquia Nossa Senhora das Graças, em Parque Flora, Nova Iguaçu, presidindo a missa inaugural da capela da nova Comunidade Nossa Senhora da Conceição e Santo Expedido, até então um núcleo no qual as missas eram celebradas nas casas dos fiéis locais.
            Após o rito de bênção da construção, vendo algumas crianças novas participando com seus pais ou avós da celebração, D. Luciano interrompeu a sua fala para parabenizar estas famílias que haviam trazido seus filhos pequenos. E fez uma afirmação: até os cinco anos, se os pais ensinam a respeito de Deus a seus filhos, eles levarão essa crença pelo resto de suas vidas.
            Esta afirmação ficou na minha mente, incomodando-me, pois eu queria saber de onde o nosso bispo havia tirado essa idéia. Com ela indo e voltando em minha mente, lembrei-me da época em que eu estava cursando as disciplinas pedagógicas para a licenciatura em Letras, na USP, entre 1994 e 1995. E recordei das aulas de uma professora de Psicologia da Educação.
            Foge-me o nome dela, mas o que ela ensinou voltou-me com clareza. Em relação ao cérebro humano, ela disse que o cérebro da criança só termina de se formar por volta dos sete anos. Até então, a criança não tem raciocínio abstrato, apenas o concreto. É por essa razão que as primeiras aulas de matemática de uma criança utilizam figuras concretas para o ensino de adição ou subtração, tipo “Joãozinho tem duas laranjas e três bananas. Quantas frutas tem Joãozinho?” Se for perguntado ao Joãozinho quanto é dois mais três, ele não saberá responder, pois pensará “dois o quê? Três o quê?”, devido à sua incapacidade para o raciocínio abstrato nessa etapa da vida. A partir da lembrança dessas aulas de Psicologia e da afirmação de D. Luciano naquela missa, compreendi o que o bispo havia dito.
            Uma criança cujos pais, desde o nascimento dela, a leva para a igreja, a ensina a participar bem da celebração, que a orienta para que compreenda que a igreja é um espaço de oração, que existe um espaço para brincar, outro para dormir, outro para alimentar-se, e que também há, ao longo do dia, um tempo para dormir, outro para refeição, outro para brincar, outro para estudar, outro para orar, e, principalmente, se os pais testemunharem não apenas na Igreja, mas também e de modo especial em casa sua fé em Deus, dobrando os joelhos e orando na frente dos filhos, estes, embora não vejam a Deus, aprenderão que Deus existe, que é uma realidade concreta, um ser superior ante quem os pais dobram os joelhos, oram e Nele confiam. Essa experiência concreta com Deus será levada por estes filhos até o fim de suas vidas.
            A catequese é fundamental na vida do cristão, no entanto, ela está sujeita a produzir poucos frutos para Deus e para a Igreja se os pais encaminharem seus filhos para a Igreja apenas quando eles tiverem mais de sete anos, sem que os próprios pais participem de uma comunidade de fé. O provável é que o resultado seja o que acontece com a maioria dos catequizandos: após a primeira Comunhão, afasta-se da Igreja, sem compreender o sentido do Sacramento e sem fazer uma verdadeira experiência de fé. Será um evento social, mas não de fé. Um momento de festa, roupa branca, fotos, mas que não mexe com o interior da criança. Sem o testemunho de fé dos pais e sem que estes também participem da vida comunitária na Igreja, dificilmente nós formaremos cristãos para transformarem a face da terra segundo o coração de Deus. Ainda teremos, quem sabe, muitos batizados, mas que vão viver como se nunca o tivessem sido, sem que a Palavra de Deus e sua fé Nele os transformem verdadeiramente em cristãos.
            Diante da triste, lamentável e desesperançada realidade que estamos vivendo em nosso país, o maior país católico do mundo e quem sabe também cristão, é inadmissível chegarmos aonde chegamos. Tenho dito aos meus paroquianos que se eles pudessem ir ao Congresso Nacional perguntar quem ali é cristão, católico ou de outras igrejas cristãs, dificilmente um braço ficaria sem ser levantado. Se o mesmo fosse feito no Complexo Penitenciário de Bangu, o resultado seria o mesmo. Como um pais majoritariamente formado por cristãos pode chegar ao ponto de violência, corrupção e injustiça a que chegamos? Será que Deus é uma realidade concreta na vida desses cristãos?
            Esperando que os pais se conscientizem disso, igualmente esperamos que estes proporcionem a seus filhos uma experiência concreta de fé desde a mais tenra idade, para que Deus seja uma realidade concreta em suas vidas e, conhecendo a Deus e à Sua Palavra, vivam de forma a não se deixarem levar pelos valores pervertidos do mundo que têm levado ao egocentrismo, à corrupção, à injustiça, à violência e à cultura da indiferença e da morte, mas, ao contrário, vivam e promovam a cultura da justiça e da vida segundo o projeto de Deus.
É certo que as crianças de hoje herdarão no futuro o nosso planeta, mas os pais do tempo presente têm em suas mãos o destino da nossa casa comum.


Pe. Nelson Ricardo Cândido dos Santos
14 de outubro de 2017 

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