OS QUATRO DEGRAUS PARA A PERFEIÇÃO NO AMOR

 O cristianismo é, antes de tudo, um movimento revolucionário do amor, que nos propõe um modo de vida fraterno (Atos). O seguimento de Jesus exige que sejamos amor; só assim teremos a cara de Deus e O testemunharemos. 

Jesus ensinou o maior mandamento, segundo lemos em Mateus: “Ao saberem que ele fechara a boca aos saduceus, os fariseus reuniram-se. E um deles, um legista, perguntou-lhe para pôr Jesus à prova: ‘Mestre, qual é o grande mandamento da Lei?’ Jesus declarou-lhe: ‘Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu pensamento [Dt 6,5]. Eis o grande, o primeiro mandamento. Um segundo é igualmente importante: Amarás o teu próximo como a ti mesmo [Lv 19,18]. Desses dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas””. (Mt 22,34-40) 

Amar o próximo como a nós mesmos. Eis o primeiro degrau da perfeição do discípulo. Amar a nós não egoisticamente, mas zelar por nós que somos amadas imagens e semelhanças de Deus. Conhecer-se nas virtudes e nas fraquezas, sabendo-se um ser humano em processo e buscando o equilíbrio humano. Valorizar o lazer, a formação, a cultura, os encontros, os relacionamentos humanos, as amizades. Ser simples, natural; educar a imaginação; quem não é casto de mente não o será de corpo. Pedir ao Espírito Santo para purificar a nossa mente. Quem não se ama, quem não tem segurança de si, quem não se aceita, não consegue amar nem a Deus nem ao próximo em plenitude. 


Mais tarde, Jesus ensinará mais a respeito do amor: “... todas as vezes que o fizestes a um destes mais pequenos, que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes” [Mt 25, 40b]; e “... cada vez que não o fizestes a um destes mais pequenos, a mim também não o fizestes” [Mt 25, 45c]. (Mt 25, 31-46) 


Amar ao próximo como se ama Jesus. A Carta de Tiago em diversas passagens nos ensina a concretizar a nossa fé em Jesus Cristo com obras, pois fé sem obras é morta (cf. Tg 2,26). Ensina ainda que a religião pura e sem mancha é atender os desprotegidos em suas necessidades (cf. Tg 1,27). O nosso amor a Jesus passa necessariamente pelo amor concreto ao outro necessitado. Assim, uma pergunta: a quem e como você está amando? Ler: Lc 6, 27-35. 


Ao final da última ceia com seus discípulos, narrada pelo evangelista João, temos mais um ensinamento de Jesus a respeito do amor e que aprofunda os outros dois vistos acima: “Um mandamento novo eu vos dou: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, vós também amai-vos uns aos outros. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos: no amor que tiverdes uns para com os outros”. (Jo 13, 34-35) 


Amar como Jesus nos ama. O amor de Jesus por nós, pelo próximo é que deve ser o nosso referencial. Este amor à maneira de Jesus é fundamental para a nossa fé e para sermos verdadeiramente discípulos de Jesus. Aprendendo sobre o amor de Jesus, vemos nas Sagradas Escrituras que ele acolhe a todos, sem discriminação, se faz próximo dos excluídos, dos pobres, dos enfermos, dos marginalizados. A suprema lei de Jesus, e que deve ser da Igreja também, é a salvação das pessoas. Por isso Jesus, no trecho sugerido acima para leitura e meditação, Lc 6,27-35, que trata do amor aos inimigos, nos faz uma proposta revolucionária, difícil de ser colocada em prática, mas imprescindível para sermos verdadeiramente cristãos, sermos discípulos, pois amar os inimigos é próprio de Jesus, é um ensinamento novíssimo que só existe no cristianismo, mas não, por exemplo, nas outras duas grandes religiões monoteístas do mundo, o judaísmo e o islamismo. Amar é dar a vida por todos, inclusive pelos inimigos. Daí sendo o cristianismo um movimento revolucionário do amor, não se pode nivelá-lo com outras religiões, embora o diálogo interreligioso seja necessário, inclusive para se viver o amor à maneira de Jesus. 


Pouco antes de sua prisão, Jesus, ainda no Cenáculo, no qual se deu a última ceia, dirige uma longa oração a Deus Pai. Nessa oração, Jesus diz: “Eu não rogo somente por eles, rogo também por aqueles que, graças à sua palavra, crêem em mim: que todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim e eu em ti; que também eles estejam em nós, a fim de que o mundo creia que tu me enviaste. Quanto a mim, dei-lhes a glória que tu me deste, para que sejam um como nós somos um, eu neles como tu em mim, para que eles cheguem à unidade perfeita e, assim, o mundo possa conhecer que tu me enviaste e os amaste como tu me amaste.” (Jo 17, 22-23) 


Amar à maneira do amor que une Jesus ao Pai, que o une à Trindade. Como foi dito no início dessa reflexão, o seguimento de Jesus exige que sejamos amor, pois só assim viveremos em unidade com os homens e com Deus, seremos imagens de Deus no mundo e O transmitiremos às pessoas. Para sermos um com Deus e com a humanidade faz-se necessária a renúncia de si mesmo, para assumir o discipulado pleno de Jesus. Há a necessidade de realizarmos a nossa kênosis pessoal. Esvaziarmo-nos de nós mesmos e assumir o projeto de Deus como projeto pessoal. Assumir como nossas as palavras de Paulo: “Já não sou eu quem vive, mas é Cristo que vive em mim”. Ler Fl 2, 1-11, sobre a kênosis, a humilhação de Jesus. 


Concluindo, nas passagens citadas de Mt 22, 34-40; 25, 31-46; Jo 13, 34-35; 17, 22-23 encontramos os 4 degraus da perfeição do discípulo, deixado por Jesus em sua pregação a respeito do Reino: 1) amar o próximo como nós mesmos; 2) amar o próximo como a Jesus; 3) amar o próximo como Jesus nos ama; 4) amar o próximo à maneira do amor que une Jesus à Trindade. 


Já iniciei a subida dessa escada do discipulado de Jesus? Se sim, em que degrau estou? 

Nenhum comentário: