O NOME NA CULTURA JUDAICO-CRISTÃ

 Na parábola do Rico e de Lázaro, que encontramos no Evangelho de Lucas (Lc 16, 19-31), há um detalhe raro e único desse tipo de narrativa de Jesus: o pobre e miserável que vive à porta do rico tem um nome, Lázaro, e o rico só é identificado como rico, sem nenhuma outra qualidade. Se existe este detalhe único, há uma razão.  No Dicionário Bíblico organizado por John L. McKenzie (Paulus, 1983, p. 658), recebemos a informação de que “Difundido fenômeno cultural é que o nome é considerado mais do que um rótulo convencional que distingue uma pessoa de outra. O nome tem uma misteriosa identidade com o seu portador; pode ser considerado um substituto da pessoa, agindo e recebendo em lugar dela. O nome é, frequentemente, significativo; ele não apenas distingue a pessoa, mas se pensa que indique algo do caráter da pessoa a quem pertence”. Nas Sagradas Escrituras, muitas personagens têm seus nomes alterados, indicando a sua missão ou sua história. No livro do Êxodo, por exemplo, encontramos Moisés. O faraó do Egito, ante o crescimento dos descendentes de Jacó, que podia ameaçar o seu país, além de escravizá-lo, ordena que sejam jogados no rio Nilo todo menino que nascesse daquele povo (cf. Ex 1,22). Um casal da tribo de Levi teve um filho e o escondeu por três meses. Já não podendo escondê-lo, fez um cesto de papiro, vedou-o com betume e piche, colocou o menino dentro, colocando o cesto junto aos juncos à beira do Nilo. De longe, a irmã da criança observava o que acontecia. Quando a filha do Faraó desceu ao rio para banhar-se, encontrou o cesto com a criança. O menino chorava e ela se compadeceu da criança, mesmo sabendo que era uma criança hebréia. A irmã do menino ofereceu-se à filha do Faraó para encontrar uma mãe hebréia para criá-lo, e afilha do Faraó aceitou. A mulher que ficou responsável pela criação do menino era sua própria mãe. Quando a criança cresceu, foi entregue à filha do Faraó, que a criou como seu filho e deu-lhe o nome de Moisés (“eu o tirei das águas”. No livro do Gênesis, a partir do capítulo 12, Deus chama um homem idoso, cuja esposa igualmente idosa e estéril, que vive na terra de seus antepassados e onde deverá ser sepultado sem deixar descendência, e pede que deixe essa terra e vá para onde o Senhor lhe indicar, prometendo-lhe uma descendência inumerável e incontável como as areias da praia ou as estrelas do céu. Contra toda humana esperança, este homem obedece à ordem de Deus. Seu nome é Abrão (Êxodo 12,1). No capítulo 17 do mesmo livro, quando Abrão está com noventa e nove anos, Javé muda o nome de Abrão (que significa “pai”), para Abraão, dizendo que “Eu o tornarei pai de muitas nações”. No nome deste Patriarca está contida a promessa de Javé. No Novo Testamento, há também a alteração do nome de pessoas, como, por exemplo, pescador Simão, filho de Jonas e irmão de André, um dos primeiros apóstolos de Jesus. O nome de Simão pode significar “dádiva da escuta, escutador”. O Mestre, após Simão ser o primeiro ser humano a afirmar, em nome dos outros apóstolos, que Jesus é o Cristo (Mateus 16,16), diz-lhe: “Tu és Pedro e sobre esta pedra construirei a minha igreja” (Mateus 16,18). O nome “Pedro” significa “pedra” ou “rocha” e aparece também como “Céfas”, palavra com origem em aramaico, significando igualmente “pedra”. Uma tradição muito comum na história da Igreja Católica é a mudança do nome, quando um fiel ingressa em uma comunidade monástica. Geralmente é a própria pessoa que escolhe o seu novo nome ou acrescenta um ao seu antigo nome, indicando, com isso, um aspecto de sua espiritualidade e devoção. Santa Paulina, por exemplo, foi batizada com o nome de Amábile Lúcia Visinteiner. Ao ingressar na vida religiosa, assumiu o nome de Paulina do Coração Agonizante de Jesus. Esta tradição é mais perceptível, na Igreja, em relação ao Papa, que ao ser eleito escolhe um novo nome, que dá indícios à sua nova missa não Igreja. São João Paulo II, por exemplo, nascido Karol Wojtyla, com seu novo nome indicou que daria continuidade ao Concílio Vaticano II. O atual Papa, Francisco, nascido Jorge Mario Bergoglio, como o novo nome (sugerido pelo Cardeal de São Paulo, D. Cláudio Hummes), indicou a linha de sua ação à frente da Igreja Católica voltada para o próximo, para o pobre, para a misericórdia. Voltando ao evangelho do Rico e de Lázaro, o rico é profundamente desumano. Veste-se com roupas finas, dá grandes banquetes a seus amigos e nega a ao pobre as migalhas que caem de sua mesa. Desumano, sequer tem um nome a ser guardado para a posteridade. Já Lázaro, cujo nome a partir do hebraico é “El’azar” (El= Deus, como em Israel, Rafael, Fanuel, Gabriel, Miguel...; e Azar= cuidar, ajudar), seu nome significa (Deus ajudou) traz em seu nome a misericórdia de Deus para com ele, que foi injustiçado no mundo pelos ricos e após a morte recebe a vida eterna. Uma tradição cristã, que foi-se perdendo no mundo atual, refere-se ao nome escolhido para o batismo de uma criança. Durante séculos, os pais cristãos escolhiam para seus filhos nomes bíblicos ou de santos. Nomes carregados de significados e santidade daqueles que foram exemplo de fidelidade a Deus e à Igreja. O nome “Maria” era acrescentado a outros nomes femininos. Os nomes eram também acrescentados ou as crianças eram nomeadas com o santo e santa celebrada no dia do nascimento. Meu pai, por exemplo, nascido no dia 31 de dezembro, dia de São Silvestre, ao ser batizado recebeu o nome de Geraldo Silvestre. Seus irmãos e irmãs receberam nomes católicos: Maria da Glória. Maria de Lourdes, Maria José, Emília Salete, Terezinha, José Maria, Luiz Gonzaga... Hoje, a maioria das crianças recebe um nome da moda, muitas vezes estrangeiros e sem significado ou sem compreensão de seu significado. São nomes de personagens de novela, de seriados ou de personalidades famosas, como “Leidedai”, nome que encontrei em uma das alunas de uma escola em que lecionei. Verificando seu registro escolar, apenas confirmei o que eu já sabia: ela nasceu em 1981, ano do casamento da Diana com o atual rei da Inglaterra, Charles III. O nome de Nosso Senhor e Mestre, Jesus, carrega consigo a sua missão: “Javé-Deus salva”. Assim, o nome de cada pessoa deve dar-lhe identidade e luz. Pode e deve recorrer à proteção de seu onomástico (mesmo nome) que está no céu. O nome de batismo é o nome pelo qual Deus, a quem fomos consagrados, nos conhece. É esse nome que temos de conhecer e valorizar, e não apelidos ou diminutivos! Você sabe o significado de teu nome? Se recebeu o nome de um santo, santa, anjo ou arcanjo, da Mãe ou do pai de Jesus, ou de uma personagem bíblica, você conhece a vida e a história de seu onomástico? Você recorre à sua intercessão? Quem tiver dificuldade para encontrar o significado do próprio nome, pode me procurar ou pedir-me pelo zap, que terei muita alegria em te ajudar, pois isso poderá ser de grande valia para a tua vida espiritual. Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo! Para sempre seja louvado e sua Mãe, Maria Santíssima! Pe. Nelson Ricardo Cândido dos Santos 23 de setembro de 2022 Memória de São Pio de Pietrelcina

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