ADORAÇÃO AO SANTÍSSIMO: DEVEMOS FAZÊ-LA?


Em relação à Eucaristia, é certo que Jesus não a instituiu para ser adorada, mas para ser manducada, ou seja, comida e bebida. Então, por que a adoramos? Não seria isso contrário ao desejo do Senhor?
Quanto a esta questão, podemos afirmar que a adoração ao Santíssimo é uma conseqüência de nossa fé na presença real de Jesus na Eucaristia.
Para compreendermos essa conseqüência, cabem aqui algumas reflexões.
Em primeiro lugar, a Igreja Católica sempre estabeleceu uma diferença entre a adoração (culto de latria) e a veneração (culto de dulia).
Só e exclusivamente a Deus cabe a adoração. Qualquer adoração que não seja a Deus é o que denominamos de idolatria. O Catecismo da Igreja Católica ensina-nos que “Adorar a Deus significa reconhecê-lo como tal, como Criador e Salvador, o Senhor de tudo o que existe, o amor infinito e misericordioso” (CIC 2096). Nas Sagradas Escrituras encontramos Jesus dizendo: “Somente diante do Senhor Deus te prostrarás, some Ele adorarás” (Lc 4,8), citando o livro do Deuteronômio (Dt 6,13).
Já a veneração é uma forma de culto interior, que encontra a sua justificação na Comunhão dos Santos, sendo dedicada à Virgem Maria, aos Santos e às coisas santas.
Entre o Criador e a criatura, por mais excelsa que seja, como é o caso da Virgem Maria (a quem tributamos o culto de hiperdulia, devido à sua dignidade única de Mãe de Jesus), existe sempre um abismo irrecuperável.
Além da distinção entre latria e dulia, os tratados de dogmática distinguem, em ambas as formas, o culto absoluto do relativo.
Absoluto é o culto dedicado diretamente às Três Pessoas da Trindade e aos fiéis servidores de Deus. Relativo é o culto dirigido a coisas, como imagens e relíquias, que se referem, remetem ou representam alguém que soube viver virtuosamente o Evangelho.
Assim, se as coisas (objetos) se referirem a Deus, estaremos no campo do culto de latria (adoração) relativo; se, por outro lado, as coisas têm a ver com os santos, estaremos no campo do culto de dulia (veneração) relativo.
Aplicando isso ao mistério da Eucaristia, a Igreja Católica orienta que seja prestado inequívoca e incondicionalmente o culto de latria ou de adoração absoluta. Tal orientação encontra fundamento na convicção de fé segundo a qual, na Eucaristia, existe a Presença Real de Jesus Cristo, o Filho de Deus que se fez homem, morreu, foi sepultado e ressuscitou.
É dogma de fé que: 1) a Eucaristia contém verdadeira, real e substancialmente o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo; 2) Cristo faz-se presente no Sacramento do altar por meio da conversão de toda substância do pão no seu Corpo e de toda a substância do vinho no seu Sangue: 3) as espécies do pão e do vinho continuam a existir também depois da consagração (Concílio de Trento).
Portanto, podemos afirmar:
1.o) à Eucaristia deve-se o culto de adoração absoluta, devido à presença pessoal, em mistério, do Verbo Encarnado;
2.o) a Presença Real sacramental do Senhor está ligada indissoluvelmente à permanência e à perseverança das espécies do pão e do vinho;
3.o) ao terminarem as espécies, termina aí também a Presença Real.
Em outras palavras, podemos afirmar que, por exemplo, no caso dos mistérios eucarísticos, permanecendo as espécies eucarísticas do pão e do vinho, devemos adorá-las com culto de latria absoluto (existindo aí a Presença Real), como é o caso do Milagre Eucarístico de Siena, em que há a permanência e a inteireza das espécies; terminando a presença das espécies, podemos adorar somente com culto de latria relativo (não existindo aí a Presença Real), como é o caso do Milagre Eucarístico de Lanciano, em que as espécies sacramentais estão completamente ausentes.
Resumindo, embora Jesus tenha instituído a Eucaristia para ser manducada, porque acreditamos em Sua presença real na hóstia consagrada, e por ser Cristo de natureza divina, devemos, conseqüentemente, tributar à eucaristia o culto de latria absoluto, ou seja, devemos adorá-la.

outubro de 2001

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