COMO ESTÁ NOSSA PARTICIPAÇÃO NAS CELEBRAÇÕES?



Muitos de nós, católicos, limitamos a nossa participação na Igreja à presença nas missas, principalmente as dominicais, sentindo-nos, assim, tranqüilos em cumpridores de nosso dever de cristão. No entanto, só a participação nas missas não basta para sermos considerados verdadeiramente cristãos, ainda mais que existem diferentes tipos de participação na liturgia. Este artigo pretende levar-nos a refletir sobre a nossa participação nas celebrações da Igreja, a fim de assumirmos um compromisso mais sério com Deus e com a nossa comunidade.
A liturgista Ione Buyst, em sua obra Celebração do Domingo ao redor da Palavra de Deus, ensina-nos que existem vários tipos de participação na liturgia, as quais ela classifica de ativa, externa, interior, consciente, plena e frutuosa.
Vamos refletir rapidamente sobre cada um desses tipos de participação e, a partir de nossa identificação com eles, nos propormos nos propormos a dar um passo adiante em nossa caminhada dentro da Igreja.
A participação ativa é aquela que se expressa através do canto, das respostas e aclamações, das procissões, dos gestos, etc. Por usarmos o nosso corpo, a participação ativa é, necessariamente, externa. No entanto, somente esta participação ativa e externa não é suficiente para podermos ser considerados como membros de uma comunidade cristã que celebram juntos: a nossa participação deve ser, ao mesmo tempo, interior, ou seja, a nossa mente e o nosso coração devem acompanhar as palavras que dizemos ou cantamos; a leitura ou a homilia que ouvimos; a mão e a boca que recebem a comunhão; os nossos pés que avançam em procissão; a nossa boca que beija a cruz ou a Bíblia ou a toalha do altar; as nossas mãos e braços que louvam ou se erguem em oração; o abraço ou o aperto de mão ou o beijo com os quais desejamos a paz a nossos irmãos... Lembrando que isso tudo não é apenas um trabalho pessoal nosso, mas a graça de Deus atuando em nós, quando nos abrimos para Ele de mente e coração.
A nossa participação é consciente quando compreendemos aquilo que estamos celebrando; quando não o fazemos por rotina ou hábito, mas sabendo o seu significado e querendo participar da celebração com o pleno consentimento de nossa vontade.
A nossa participação nas celebrações deve ser, ainda, plena, na mediada em que ficamos cada vez mais unidos a Cristo e somos transformados e transfigurados n’Ele, divinizados e santificados pela ação do seu Espírito em nós.
Por fim, a nossa participação deve ser frutuosa, isto é, aquilo que celebramos dá fruto em nossas vidas: começamos a perdoar, a nos doarmos mais aos irmãos, a pensar menos em nós mesmos e mais nos outros, a arriscar até mesmo a nossa vida por amor ao próximo com o objetivo de lutar para que tenham uma vida mais justa, mais digna, e para que o Reino de Deus possa vingar entre nós e acabar com toda forma de opressão, de injustiça, de discriminação, de exclusão.
É importante, em nossa reflexão, percebermos que estes tipos de participação não se excluem uns aos outros, mas se complementam e indicam que a vida em comunidade, assim como a nossa vivência litúrgica faz parte de um processo que se torna pleno no momento em que essa vivência produz bons frutos no dia a dia de nossa existência, frutos estes que necessariamente revelam o Reino de Deus no mundo e são sinais concretos de esperança. Assim, devemos nos perguntar em que estágio desse processo estamos. Podemos dizer que a nossa participação é frutuosa ou estamos estacionados nos estágios ativo e exterior? Temos consciência do que celebramos cada vez que vamos à Igreja, ou o fazemos apenas por hábito? A nossa participação na liturgia nos renova e transforma a cada celebração, a cada escuta da Palavra, a cada Comunhão, ou saímos da Igreja como entramos, sem que a nossa participação nos transforme, nos santifique, nos aproxime cada vez mais de Deus e dos irmãos?
Esperamos que este texto permita a cada um de nós meditar profundamente sobre o sentido de nossa participação na Igreja e nos anime a prosseguir em nossa caminhada eclesial, sem jamais nos acomodarmos, achando que a nossa simples presença na Igreja já basta para sermos chamados de cristãos.

maio-junho de 2002

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