Há quase um século, vem sendo comemorado de maneira crescente em todo o mundo o DIA INTERNACIONAL DA MULHER. O que pouca gente sabe é que essa data tem início com uma tragédia envolvendo dezenas de mulheres tecelãs nos Estados Unidos. Lutando por seus direitos e por melhores condições de trabalho, as tecelãs de uma fábrica em Nova Iorque foram trancafiadas na fábrica pelos patrões e policiais, que atearam fogo ao prédio. Acuadas e impossibilitadas de fugir, todas morreram asfixiadas pela fumaça e tiveram seus corpos carbonizados naquele incêndio criminoso. Mas, como tem acontecido ao longo de toda a história humana, a morte de alguns significa libertação para outros. Assim aconteceu com essa tragédia, que não ficou relegada ao passado e à memória apenas de alguns parentes e amigos saudosos e indignados.
Em 1910, na II Conferência Internacional de Mulheres, realizada na Dinamarca, a ativista feminista Clara Zetklin lembrou a morte daquelas mártires dos direitos da mulher trabalhadora, ocorrida quase meio século antes, no dia 8 de março de 1857, propondo que esse dia fosse declarado como o Dia Internacional da Mulher, em homenagem às tecelãs de Nova Iorque, cuja primeira manifestação deu-se em 1911, difundindo-se em seguida pelo mundo inteiro.
Se a partir das reflexões realizadas na comemoração anual do Dia Internacional da Mulher e em diversas outras manifestações feministas ocorreram tantas conquistas que resgataram a dignidade da mulher tão cara ao Criador, não podemos, como cristãos, esquecer a importância de Jesus como precursor e fundamento da liberdade da mulher discriminada, oprimida e excluída.
No seu tempo e em sua terra, Jesus encontrou a mulher colocada em situação de inferioridade em relação ao homem e dependente totalmente dele; equiparada aos pobres, aleijados e pecadores; sem acesso à Sagrada Escritura, apesar de figurar no Antigo Testamento heroínas como Ruth e Ester; tratada como o eram as crianças e os escravos no tocante à Liturgia, sem a obrigação de rezar as orações matutinas e após as refeições, permanecendo separada na sinagoga e no Templo; proibida de conversar em público com homens; proibida também de ser testemunha num processo legal, com raríssimas exceções. Cabia basicamente à mulher gerar e cuidar dos filhos. O homem podia facilmente se divorciar de sua mulher, mas ela jamais poderia pedir o divórcio de seu marido.
Sentindo-se enviado especialmente às pessoas consideradas inferiores pela sociedade, como os pobres, os pecadores, os aleijados e as mulheres, e chamando todos à liberdade e igualdade do Reino de Deus, Jesus violou os costumes sociais de seu tempo e cultura, tratando as mulheres em termos de igualdade e dignidade, tornando-as parte constitutiva da Boa Nova por ele anunciada. Fez delas suas discípulas, instruindo-as nas Sagradas Escrituras, permitindo-lhes que o seguissem e o ajudassem em suas viagens (cf. Lc 8,1; Mc 15,40); aparecendo ressuscitado primeiro a uma mulher, que não poderia ser testemunha (Jo 20,11ss; Mt 28,9ss; Mc 16,9ss); acolhendo-as, como à pecadora na casa do fariseu (Lc 7,36) e à adúltera que seria apedrejada (Jo 4,5ss); conversando com uma estrangeira em público e aceitando-a como testemunha, como é o caso da Samaritana, cujo Evangelho lemos no último Domingo; defendendo a mulher contra a poligamia e o divórcio (Mt 19,3ss; Mc 10,2ss); não limitando a ação da mulher à vida doméstica (Lc 10,38ss), mas chamando-a à vida intelectual e espiritual (Lc 11,27ss); apresentando a mulher como imagem de Deus (cf. Lc 11,27, na parábola da dracma perdida). Estas são algumas das inúmeras passagens das Sagradas Escrituras em que a relação de Jesus com as mulheres foi libertadora.
Resumidamente, podemos afirmar que Jesus promoveu a dignidade e a igualdade da mulher em meio a uma sociedade patriarcal e machista, de maneira clara e revolucionária. No Dia Internacional da Mulher, devemos nos perguntar: nós, seguidores de Jesus, podemos ser diferentes?
Apesar de tantas conquistas, ainda há muito a se conquistar para que a mulher e homem tenham respeitados igualmente os seus direitos. Hoje no Brasil, segundo o censo de 2000, a mulher representa 50,8% da população; 26% dos chefes de domicílio são do sexo feminino; a taxa de escolarização da mulher é superior à dos homens; a mulher representa 41,39% da população economicamente ativa do país. No entanto, o salário da mulher é inferior ao do homem que desempenha a mesma função; muitas vezes é obrigada a enfrentar a dupla jornada de trabalho, como profissional e dona de casa; é a maior vítima da agressão em família.
Não podemos também esquecer da presença imprescindível das mulheres na nossa Igreja, majoritariamente superior à dos homens, que vem, desde o Concílio Vaticano II, conquistando seu espaço em nossas comunidades como Catequistas, Coordenadoras de pastorais e de comunidades, Testemunhas Qualificadas de Matrimônio, Ministras do Batismo, da Palavra e da Eucaristia. Com certeza, nos quase 42 anos de nossa Diocese, as mulheres tiveram fundamental importância em todas as conquistas que tivemos em todas as áreas de nossa Igreja Particular. O rosto da Diocese de Nova Iguaçu exibe com orgulho a sua face feminina.
Que a partir de nossa Igreja, continuemos a respeitar e a lutar pelos direitos da mulher, pois dessa forma, seguindo o ensinamento de Jesus, estaremos contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa e fraterna.
09/03/2002
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