EM QUE DIA NASCEU JESUS?


Há alguns anos, na escola em que lecionava em São Paulo, tinha contato diário com a mãe de uma aluna, pertencente à igreja das Testemunhas de Jeová. Ela não era uma mera fiel, mas um membro ativo em sua igreja e também na escola, fazendo parte do Conselho. Embora pertencente a uma religião fundamentalista e considerar suas verdades como absolutas, conversamos muitas vezes sobre o cristianismo. Nessas ocasiões, a certeza dela continuava inabalável e a necessidade de me aprofundar no conhecimento da minha fé e da minha Igreja vinha a tona. Assim, o contato com outra religião foi para mim um grande aprendizado, pois vi-me obrigado a procurar respostas a questões que nunca me haviam sido colocadas.
Lembro-me que, certa vez, essa mãe de aluna — quando lhe desejei “Feliz Natal” — disse-me que Jesus não havia nascido no dia 25 de dezembro e que essa data não constava na Bíblia. Um pastor protestante, que era professor nessa mesma escola e grande amigo meu, confirmou, quando lhe apresentei a questão, o que ela me havia dito, acrescentando que detalhes do nascimento de Jesus narrados nos Evangelhos não seriam compatíveis com o clima de dezembro na Palestina, quando se está em pleno inverno.
Olhando atentamente a Bíblia, constatei que, realmente, não havia nos Evangelhos a data do nascimento de Jesus. Havia indícios, mas não a precisão. Surgiu então a dúvida: Por que celebramos o Natal de Jesus no dia 25 de dezembro?
Pesquisando, descobri que as primeiras comunidades cristãs, por volta do ano 100 d.C. festejavam o nascimento de Jesus no dia 6 de janeiro, dia de seu batismo. Para essas primeiras comunidades, a data do batismo era considerada como nascimento para a graça de Deus, e a data do martírio (ou da morte) como nascimento para o céu.
Celebrando o batismo de Jesus, os primeiros cristãos celebravam a manifestação de Jesus ao mundo como se fosse o seu nascimento. Essa data coincide com a festa egípcia de morte e renascimento do Sol, no solstício de inverno. No calendário romano, no entanto, o solstício de inverno caía na noite de 24 para 25 de dezembro. A religião do Império Romano tinha o Sol como deus, dando-lhe o título de Sol Invictus ou sol indomável. Uma grande festa era realizada para saudar a luz do sol nascente.
Quando, no século IV, o imperador Teodósio decretou o cristianismo como religião oficial do Império Romano, houve a proibição de festejar outros deuses. Como a festa do solstício de inverno estava muito enraizada na cultura popular, a Igreja achou por bem mantê-la, mas dando-lhe um novo sentido, estabelecendo, assim, na mesma data, a festa do nascimento de Jesus, o “Sol nascente que nos veio visitar lá do alto”(Lc 1,78), a verdadeira luz do mundo.
Desde essa época, a Igreja Católica Romana celebra o Natal de Jesus na noite de 24 para 25 de dezembro, enquanto as Igrejas Católicas do Oriente o celebram no dia 6 de janeiro, segundo a tradição mais antiga.
Mais do que responder a uma dúvida ou ser apenas uma curiosidade, este fato é, para mim, uma lição de vida e de espiritualidade, e que se relaciona aos textos publicados no último número do Lumen Christi. “A diversidade da intenção faz a diversidade dos atos”. Esta frase de Santo Agostinho, que lemos no mês passado deve ser e é uma lição para nós. Sua realidade se faz presente nos Evangelhos, na História da Igreja, na Liturgia e no nosso dia a dia, sem que, na maioria das vezes, o percebamos. No caso do Natal, a Igreja, em sua sabedoria, assumiu uma festa pagã, importante para o povo, e deu-lhe um sentido cristão. Quantas coisas boas nós condenamos por não percebermos o valor evangélico nelas, por não percebermos nelas a ação universal do Espírito de Deus!
Que a celebração deste Natal nos ajude a viver a alegria da vida, em todas as suas dimensões, dentro do verdadeiro espírito cristão. Que todas as nossas ações sejam expressão de nosso amor a Cristo, aos irmãos, à natureza e a nós também.
A todos os leitores do Lumen Christi, um feliz e abençoado Natal, e que em 2002 a paz do Senhor esteja em todos os nossos corações e em nossos lares. Amém.
dezembro de 2001

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