Da mesma forma que o Natal, a sociedade ocidental moderna fez da Páscoa uma festa comercial, em que a imagem do coelho e a venda de ovos de chocolate sobrepõem-se ao significado único e razão de nossa fé em Jesus Cristo: sua Ressurreição.
A festa da Páscoa católica é antecedida pela Semana Santa, a qual marca o final dos quarenta dias de oração, jejum e penitência, que caracterizam a Quaresma. A Semana Santa destina-se a celebrar a Paixão e a Ressurreição de Cristo, começando com sua entrada messiânica em Jerusalém, festejada por nós Domingo passado, com a bênção e a Procissão de Ramos.
Na Quinta-feira Santa passada, D. Elias, bispo de Valença, esteve em nossa Diocese presidindo a Missa dos Santos Óleos, na qual foram abençoados os óleos de batismo, crisma e unção dos enfermos que serão utilizados em toda a Diocese. À noite, paróquias e comunidades celebraram a Missa do Lava-pés e da Ceia do Senhor, encerrada com a trasladação e adoração ao Santíssimo. A Sexta-feira da Paixão foi celebrada na maioria das paróquias com a Via Sacra pelas ruas próximas às igrejas e a encenação da Paixão e Morte de Jesus Cristo, sempre com uma multidão emocionada seguindo a procissão, orando e entoando cânticos. A Vigília Pascal teve início com a bênção do fogo e do Círio Pascal, seguida da procissão do povo com velas acesas para dentro das igrejas às escuras, que se acendem à entrada do Círio Pascal, permitindo ao povo reviver o mistério da graça e da luz em que se renova, ano a ano, a vida dos batizados.
A missa do Domingo da Ressurreição era antigamente chamada de “Solenidade das Solenidades”, pois marca o evento mais revolucionário na história da humanidade: Jesus ressuscita. Com sua ressurreição, todas as promessas do Pai feitas nas Alianças com seu povo se cumprem e todas as nossas esperanças têm a certeza de se cumprirem. A Ressurreição do Senhor é o grande e definitivo sinal de que o Jesus de Nazaré, aquele homem que habitou entre nós, era, é e sempre será o Filho de Deus, o Verbo Encarnado. É essa Ressurreição que abriu ao ser humano as portas da vida eterna junto a Deus Criador.
Já no Antigo Testamento, vê-se que Israel celebrava uma festa agrícola, a festa dos Ázimos, iniciada após a tomada de posse da Terra Prometida. Depois da reforma de Josias, em 622 a.C., a festa dos Ázimos passou a ser associada à festa da Páscoa, que lembra a saída do povo israelita do Egito (c. 1250 a.C.) e o início de uma nova era, o tempo da libertação. Marcando o início da vitória do povo sobre as estruturas de poder opressoras, a partilha do alimento ensinou que ninguém deveria ter demais e a ninguém deveria faltar o que comer: “O cordeiro será escolhido na proporção do que cada um puder comer” (Ex 12,4b).
Jesus, ressuscitando no dia da Páscoa judaica, deu novo significado a esta festa, marcando a sua passagem, pela região da morte, para a ressurreição e a vida. Cristo foi associado, pelos cristãos, ao cordeiro imolado da nova Páscoa (1Cor 5,7; 1Pd 1,19; Ap 5,6). Se a Páscoa judaica marca a libertação do povo da escravidão no Egito, a Páscoa cristã marca a libertação de toda a humanidade, através do sacrifício do Cristo-cordeiro, das amarras do pecado e da morte eterna.
Na liturgia católica, os 50 dias, desde o Domingo da Páscoa até Pentecostes, são celebrados como um único dia de festa, como um único grande Domingo, por isso todos esses domingos são chamados “domingos da Páscoa”. No Domingo de Pentecostes, finda-se o Tempo Pascal e apaga-se o Círio Pascal abençoado e acesso no Sábado de Aleluia, o qual simboliza o próprio Cristo ressuscitado, “a luz do mundo”, que volta a ser aceso em todas as celebrações de batizados.
A todos nós, católicos do mundo e particularmente da Baixada Fluminense, celebrar a Semana Santa, em que fazemos memória da Paixão e Morte de Jesus, seguida pela Festa da Páscoa, é celebrar a certeza de que todas a injustiças, dores, tristezas, perseguições, violências, discriminações com que somos agredidos devido a um sistema opressor serão completamente superados quando a mensagem evangélica pregada por Jesus for vivida intensamente por todos, povo e dirigentes, empregados e empresários, cidadãos e políticos, no cotidiano de nossas vidas, nas pequenas ações diárias, nos relacionamentos que nos unem, na fé viva, e não apenas proclamada pelos nossos lábios, em Jesus Cristo Ressuscitado, que na última ceia com seus discípulos ensinou-os que é na partilha que Ele se faz presente e nós nos fazemos irmãos. Feliz Páscoa e vida plena para todos!
30/03/2002
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