No calendário litúrgico da Igreja Católica, as datas de festas e memórias dos Santos marcam a data de suas mortes, ou seja, o dia em que, depois de passarem esta vida testemunhando com suas ações a fé em Jesus Cristo, entraram na glória dos céus. No entanto, há 3 exceções, 3 pessoas cujos nascimentos também são comemorados: Jesus (25 de dezembro), Maria (08 de setembro) e João Batista (24 de junho).
Na próxima segunda-feira, a Igreja festeja justamente o nascimento de São João Batista, um dos santos mais populares do mundo e cuja festa (junto com as de Santo Antônio e São Pedro) é comemorada popularmente com fogueiras, balões, fogos de artifício, dança de quadrilhas e comidas típicas em praticamente todo o Brasil, no que se conhece como “festas juninas”.
É comum o povo confundir as figura de São João Batista com a de São João Evangelista, embora sejam personagens totalmente diferentes.
Segundo a Sagrada Escritura, João Batista era o filho nascido na velhice de seus pais, Zacarias e Isabel, esta prima de Maria, a mãe de Jesus, para anunciar o Redentor e preparar os homens para a sua vinda. Segundo o Evangelho, Zacarias dá ao filho o nome de João (“Deus é misericordioso”), conforme lhe indicara o anjo do Senhor, recuperando, então, a voz que havia perdido no momento do anúncio do nascimento do menino. Cheio do Espírito Santo, Zacarias prediz o glorioso futuro do filho, expresso no cântico conhecido como “Benedictus”: “Irás a frente do Senhor para aplainar e preparar o seu caminho, anunciando a seu povo a salvação, que está na remissão de seus pecados” (Lc 1,76b-77).
A Igreja considera o nascimento de João Batista como um prelúdio do Natal do Salvador, e neste encontrando o seu sentido. No nascimento de João, a Igreja saúda Jesus e a alegria a que nos convida deve ser a alegria que enche a nossa alma de esperança pela certeza de que o Senhor Deus de Israel visitará e resgatará o seu povo (cf. Lc 1,68).
Assim como aconteceu com tantas festas pagãs que receberam um sentido cristão, as datas das festas de nascimento de João Batista e de Jesus (24 de junho e 25 de dezembro) marcam, na Europa, a data em que o dia começa a minguar, após o dia mais longo do ano (24 de junho) e a data em que o dia começa a crescer, após o dia mais curto do ano (25 de dezembro). Na relação entre as duas datas temos a imagem da humildade de João Batista, o precursor, que se apaga diante daquele que ele próprio anuncia e cuja influência gradualmente vai crescendo: “É preciso que ele cresça e eu diminua” (Jo 3,30). Daí compreende-se a importância que a festa de São João Batista teve na liturgia da Igreja, a ponto de, por muitos séculos, até a reforma litúrgica após o Concílio Vaticano II, serem celebradas 3 missas, como no Natal, sendo ainda considerado dia de guarda.
As fogueiras de São João, que a tradição popular acendia, vinha completar a solenidade litúrgica, sublinhando este simbolismo da luz que surge nas trevas da noite.
As relações entre João Batista e Jesus, vão além dessa simbologia da luz. No início, o movimento de João e o de Jesus eram muito semelhantes. Os dois se retiraram do deserto, os dois reuniram seus discípulos, os dois pregaram a mesma mensagem: “Convertei-vos, porque está próximo o reino dos céus” (Mt 3,2; 4,17). Mas os Evangelhos destacam as diferenças entre ambos: João é enviado a preparar os caminhos para a chegada de Jesus (cf. Mc 1, 1-9), não sendo digno sequer de desamarrar as sandálias de Jesus, que trará um batismo diferente (cf. 3,11; Mc 1, 7-8; Jo 1, 27-28); João não é a luz, mas veio para dar testemunho da luz (cf. Jo 1,8.19-39; 3,27-30); após a prisão de João Batista, Jesus começa o seu ministério (cf. Mc 1,14; Mt 4,12).
Na festa do nascimento de São João Batista, peçamos a ele que continue junto de nós o seu papel de precursor de Jesus, nos encaminhando para Cristo e nos guiando nos caminhos da vida eterna.
22/06/2002
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