SÃO PEDRO E SÃO PAULO


A respeito da Solenidade que a Igreja celebra neste domingo, um antigo missal cotidiano trazia escrito que “toda a Igreja está em festa neste dia consagrado ao martírio dos apóstolos Pedro e Paulo”. Não foram apenas dois grandes santos, mas os dois princípios fundamentais da Igreja: a Unidade, representada por Pedro, e a Ação Missionária, por Paulo.
Trata-se de uma festa muito antiga na Igreja, inscrita no Santoral romano e celebrada já muito antes da inscrição da festa do Natal. Embora no calendário litúrgico da Igreja esta solenidade esteja marcada para o dia 29 de junho, no Brasil, por determinação da CNBB e autorização da Santa Sé, ela é celebrada no domingo entre 28 de junho e 4 de julho.
Simão foi um pescador (Lc 5,3; Jo 1,44) introduzido por seu irmão André entre os seguidores de Jesus (Jo 1,42). Mais tarde, Jesus muda seu nome para Pedro, a pedra (Mt 16, 17-19; Jo 21, 15-17), realizando em sua pessoa o tema da pedra fundamental. Foi uma das primeiras testemunhas do sepulcro vazio (Jo 20,6) e foi agraciado com uma aparição especial do Ressuscitado (Lc 24,34).
Após a ascensão de Jesus e a vinda do Espírito Santo em Pentecostes, toma a direção da comunidade cristã, sendo o primeiro a falar da necessidade de abrir a Igreja nascente aos pagãos. Apesar disso, ainda considerava os cristãos de origem pagã como inferiores aos cristãos de origem judaica (At 6, 1-2), o que gerou algumas discussões com Paulo. No entanto, quando Pedro dirige-se a Roma, já superou esta idéia e torna-se apóstolo de todos, sem discriminações, cumprindo então a sua missão de “pedra”, reunindo num só “edifício” os judeus e os pagãos.
É muito interessante notar que a missão de Pedro não o livrou de sua condição humana nem das deficiências de seu comportamento: caminha sobre as águas em direção a Jesus, mas o medo faz com que afunde (Mt 14,29); no Lava-pés, não compreende o ato de Jesus e não quer que este lhe lave os pés (Jo 13,6); após dizer a Jesus que daria a própria vida por ele (Jo 13,37), nega-o três vezes (Jo 18, 17.25.27); num impulso, durante a prisão de Jesus, corta a orelha do escravo do Sumo Sacerdote (Jo 18, 10); professa a fé em Cristo (Mc 8,27) e imediatamente após repreende o Mestre pelo que este dizia (Mc 8,32).
Preso em Roma, seu processo tem alguns pontos semelhantes ao processo de Jesus: ambos foram presos nos dias dos pães ázimos (At 12,3; Lc 22,7), mas a morte de Pedro foi deixada para depois da Páscoa (At 12, 4; Mc 14,2); foram condenados à morte por crucifixão, mas Pedro sentia-se indigno de morrer de forma semelhante à de Jesus, por isso, segundo a Tradição, foi crucificado de cabeça para baixo.
A história de da conversão de Paulo na estrada de Damasco é muito conhecida. Após seu encontro com Jesus, o perseguidor dos cristãos torna-se o maior evangelizador do mundo romano. Realizou diversas viagens, pregando, criando comunidades, exortando as existentes, enfrentando as mais diversas dificuldades e obstáculos. Após sua terceira viagem missionária, volta a Jerusalém e é preso (At 21). Como era, além de judeu, um cidadão romano, Paulo apela para Roma, o que faz com que empreenda sua quarta viagem, agora não mais em liberdade (At 21-26). Chega a Roma por volta do ano 60 d.C., ficando na prisão até o ano 63, período em que escreve as “cartas do cativeiro”. Libertado nesse mesmo ano, empreende sua última viagem e antevê seu fim próximo. Novamente preso, no ano 67 é decapitado, morte reservada aos cidadãos romanos.
Pedro conviveu com Jesus; Paulo, não. Pedro foi um simples pescador provavelmente sem estudos; Paulo, um intelectual, conhecedor profundo das Escrituras, reunindo em si a três grandes culturas de sua época e de sua região: foi judeu de nascença, cidadão romano e educado na cultura grega. Pedro evangeliza os judeus; Paulo, os gentios. Foram chamados ambos por Cristo, mas em locais, épocas e de modos diversos. Embora tão diferentes, Pedro e Paulo estiveram unidos na mesma fé e no mesmo amor a Cristo e à Igreja emergente.
A celebração da solenidade de São Pedro e de São Paulo Apóstolos nos convida de modo particular a compreendermos o sentido da unidade na diversidade. “Há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo; diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo; diversos modos de ação, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos”, conforme escreveu Paulo (1Cor 12, 4-6).

29/06/2002

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