A PARÁBOLA DO PAI MISERICORDIOSO


Uma das mais conhecidas e belas parábolas contadas por Jesus é conhecida como “Parábola do Filho Pródigo”, mas que tem no pai misericordioso a sua personagem central. Na Quaresma, quando somos convidados a viver a reconciliação com Deus, meditar essa parábola pode ser uma das formas de fazermos verdadeiramente a experiência do perdão de Deus.
Nessa parábola, destacam-se 3 personagens: o filho que parte, o filho mais velho e o pai. Em nossa existência, podemos passar pela experiência de sermos o filho que se afasta da casa paterna, ou o filho que permanece sempre junto ao pai ou sermos como o próprio pai.
Todas as vezes que rompemos nossa Aliança com o Pai e nos afastamos de Seu projeto, fazemos a experiência do filho mais jovem que quer viver a sua vida. O pai, em seu imenso amor, não o impede, deixando que ele vivencie tudo aquilo que deseja, mesmo sabendo que pode lhe trazer sofrimento. Ao respeitar nossa liberdade, Deus age da mesma forma. Quantas vezes viramos as costas a Deus e ao próximo, caminhamos no sentido contrário à nossa vocação e, quando arrependidos voltamo-nos para o Pai, ele nos acolhe com todo o amor.
Quantos de nós, no entanto, não permanecemos sempre junto a Deus, dentro de nossa religião, mas com o coração duro, incapaz de amar e de perdoar. Queremos, assim como o filho mais velho, uma deferência especial da parte de Deus, esquecendo-nos que todas as graças são iniciativa exclusiva do Senhor e não méritos nossos. A figura do filho mais velho nos convida a refletirmos uma questão de primordial importância para nossa salvação: da mesma maneira que ele se negou a entrar na festa dado ao irmão que voltou, será que nós não nos negaremos a participar do Banquete da Vida ao depararmo-nos com irmãos que julgávamos perdidos, mas que Deus, em sua infinita misericórdia perdoou e acolheu?
Por fim, a figura a que somos convidados a imitar em nossa caminhada cristã é a do pai misericordioso (“Sede perfeitos como meu pai é perfeito”, já nos ensinara Jesus). O pai ama, e porque ama, perdoa. Nesta parábola, o pai em momento algum pergunta ao filho porque fez o que fez, nem lhe passa um sermão ou lhe castiga antes de recebê-lo de volta. Simplesmente o abraça e o recebe amorosamente.
A atitude do pai da parábola é exemplar para nós e deve alegrar o nosso coração de filhos à procura da reconciliação. Nós vamos à procura do Sacramento da Reconciliação e esperamos sempre uma penitência que repare o mal que fizemos e nos faça sentir que nossos pecados estão perdoados; assim também o filho mais novo, que vai pedir ao pai que o trate como a um de seus empregados. Mas penitência que o pai dá a seu filho pródigo é a maior prova de seu amor imensurável: a festa. O filho sentia a necessidade de uma penitência, mas o pai apenas se alegra com sua volta. O mesmo acontece com a nossa reconciliação com Deus. Quando falamos em penitência, sabemos que nós é que precisamos, a fim de nos sentirmos renovados e purificados. Mas, da parte de Deus, não se exige nem sacrifícios nem oblações em seu altar, apenas um coração arrependido.
Que a reflexão sobre a parábola do Pai misericordioso nos motive a transformarmos o nosso coração num coração arrependido, que ame acima de tudo e reflita em nossa comunidade a infinita misericórdia de Deus.

janeiro-fevereiro de 2002

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