A Solenidade de Pentecostes neste domingo celebra a apresentação da Igreja ao mundo e seu nascimento oficial com o batismo no Espírito.
Para o povo de Israel, Pentecostes era inicialmente a festa ligada às colheitas, cinqüenta dias após a semeadura. Com a libertação do povo hebreu do cativeiro no Egito – a Páscoa judaica –, Pentecostes ganhou um novo sentido: passou a ser a celebração da Aliança que Javé fez com Moisés e seu povo no Monte Sinai, entregando as Tábuas da Lei, o Decálogo, os Dez Mandamentos, fato que se deu, segundo o Antigo Testamento, cinqüenta dias após a saída do Egito.
A paixão, morte e ressurreição de Jesus e o envio do seu Espírito está em íntima ligação com a cultura judaica, uma vez que Jesus era judeu, assim como o era a maioria dos primeiros cristãos. Jesus ressuscitou no dia da Páscoa judaica e a vinda do Espírito Santo sobre os discípulos deu-se, segundo o Livro dos Atos dos Apóstolos, na festa de Pentecostes judaica.
Nos três primeiros séculos do cristianismo, havia uma grande unidade entre Páscoa e Pentecostes, e este não era apenas um dia, mas os cinqüenta dias do tempo pascal. A partir do quarto século, essa unidade foi rompida, passando a haver duas festas distintas: Páscoa e Pentecostes. Na segunda metade do século XX, com a renovação do Concílio Vaticano II, resgatou-se aquela unidade perdida, com a solenidade de Pentecostes marcando o encerramento do tempo pascal, daí apagar-se, neste domingo, o Círio Pascal, aceso no início desse tempo, na Vigília do Sábado Santo.
A efusão do Espírito Santo é o cumprimento da promessa de Jesus e, portanto, Pentecostes celebra o dia em que o mistério pascal atingiu a sua plena realização, ou seja, é a plenitude da Páscoa.
Na liturgia da Palavra deste domingo, percebe-se a força unificadora do Espírito no acorrer de pessoas de todas as nações (At 2,5), que ouviam os discípulos falarem em suas próprias línguas (At 2,6), indicando-nos a reconstrução da unidade perdida em Babel (Cf Gn 11,1-11) e prenunciando a missão universal da Igreja nascente. Para nós, o sinal dessa unidade é dado pelo fato de sermos batizados num só Espírito, Espírito este que anula toda a distinção racial ou social na crença única que Jesus Cristo é o Senhor.
Essa unidade reconstruída, porém, não indica uniformidade, mas pluralismo, constituído pela variedade de dons de cada membro da Igreja, que consolidam a unidade uma vez que esses dons são concedidos para o bem comum, para a utilidade de todos, para a edificação da Igreja, e jamais para a promoção pessoal ou de um pequeno grupo.
Unidade na pluralidade é a grande mensagem de Pentecostes para todos nós. Viver o evento Pentecostes no dia a dia é nos comprometermos a ser tolerantes com aqueles que são ou pensam de formas diferentes de nós, a nos tornarmos promotores da paz prometida por Jesus no cotidiano de nossa existência, nas nossas relações diárias com os colegas, amigos e familiares, e a construirmos, em comunhão com todos, uma sociedade mais humana, mais justa, mais fraterna. Viver Pentecostes significa não impor uma só maneira de ver o mundo e de organizar a vida.
Essa compreensão é válida em todos os âmbitos de nossa vida: pessoal, familiar, profissional, de cidadão. Numa época em que tanto se fala de globalização – ou seja, de um mundo no qual se tenha somente uma única proposta de organização sócio-econômico-política, que sufoca e extingue a individualidade, a cultura local, a identidade de povos inteiros e a multiplicidade de línguas –, Pentecostes continua a nos ensinar que a unidade entre os povos se dá através da solidariedade e que a multiplicidade das culturas são formas riquíssimas de se explicitar o único e mesmo Reino anunciado por Jesus.
Que, impulsionados pelo Espírito Santo, sejamos instrumentos de sua ação renovando a face da terra, a começar em nossas famílias e comunidades.
18/05/2002
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