SANTÍSSIMA TRINDADE

Neste domingo, logo em seguida ao encerramento do Tempo Pascal com a Festa de Pentecostes, a liturgia da Igreja nos apresenta a Festa da Santíssima Trindade. São Roberto, no século XII, escreveu: “Depois de celebrarmos a efusão do Espírito Santo, festejamos logo a seguir, no primeiro Domingo, a Trindade Santíssima, e é bem feita esta escolha, porque logo depois da vinda do Divino Espírito começou a pregação da fé e com a pregação da fé a administração do Batismo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”.
Nunca é demais lembrar que a Santíssima Trindade é o mistério fundamental do cristianismo; é dogma cristão que proclama a união de três pessoas distintas – Pai, Filho e Espírito Santo –, formando um único Deus. Este Deus que é comunidade e comunhão de vida é verdadeiramente mistério e realidade que supera de forma absoluta toda compreensão humana. Dizia Santo Agostinho que “Deus é tão inexaurível que quando encontrado ainda falta tudo para encontrá-lo”. Sendo assim, Deus nunca deixará de causar admiração no ser humano, e nossa oração a Ele dirigida não deve reduzi-Lo aos limites humanos, mas, ao contrário, dilatar-nos aos horizontes de Deus. As perguntas e respostas do ser humano sobre a Trindade, menos que tentar compreender este mistério, é de importância fundamental para a compreensão do próprio ser humano, do sentido de sua existência e de seu fim último.
Portanto, a Festa da Santíssima Trindade não se destina a aprofundar a doutrina sobre o Deus Uno e Trino, mas deve servir como um momento especial para os cristãos e as comunidades cristãs renovarem sua aliança com Deus Pai, que nos entregou o dom da vida em Jesus Cristo e o dom do amor no Espírito Santo.
A primeira vez que a palavra “Trindade” ( triás, em grego) apareceu escrita para referir-se a Deus foi na obra de S. Teófilo de Antioquia (> c. 181 d.C.), ao referir-se aos dias da Criação, relatados em Gn 1: “Os três dias que precedem o aparecimento dos luzeiros são tipos da trindade: de Deus, de seu Verbo e de sua Sabedoria”. As tentativas de conciliar a unidade e a trindade de Deus geraram debates e teorias heréticas, que levaram à reunião do primeiro Concílio Ecumênico da história, em Nicéia, no ano 325, que redigiu uma profissão de fé , que acentuou a identidade de substância do Pai e do Filho. Em 381, o Concílio de Constantinopla acrescentou àquela profissão de Nicéia os dados referentes ao Espírito Santo. A festa que celebramos hoje entrou para o calendário litúrgico da Igreja romana somente em 1334. Com o Concílio Vaticano II, esta festa, que era mais temática, recebeu uma dimensão mais bíblica e litúrgica.
Na festa da Santíssima Trindade devemos nos perguntar qual o significado dela em nossas vidas e na vida das comunidades: é uma questão existencial, e não intelectual. Não podendo explicar a Trindade, cabe-nos viver a Trindade, experienciá-la.
Precisamos ter em mente que quanto mais trabalharmos para o nosso desenvolvimento e o dos nossos irmãos; quanto mais cultivarmos os valores evangélicos de fraternidade, compreensão, misericórdia, perdão, justiça, amor e paz, mais próximos estaremos da vivência da comunhão existente entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
Que na festa deste Domingo, professando a nossa fé na Santíssima e Eterna Trindade e na sua indivisível Unidade, sejamos, em nossas comunidades e para todos os nossos irmãos e irmãs, através do testemunho de nossas vidas cotidianas, a imagem mais clara e a semelhança mais plena desse mistério de Deus.

25/05/2002

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