SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS



No próximo dia 07/06, a sexta-feira após o 2.o domingo depois de Pentecostes, a Igreja celebra a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus.
Embora a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus só tenha se estendido à toda a Igreja católica em 1856, ela é fruto de todo um desenvolvimento histórico. A Igreja, desde o seu princípio, olhou com devoção para o Coração de Jesus trespassado pela lança, na cruz, do qual saiu sangue e água, símbolos dos sacramentos que a constituem, particularmente a Eucaristia e o Batismo. Na Idade Média, as santas beneditinas Gertrudes e Matilde destacaram-se pelo culto ao Coração de Jesus, sendo consideradas precursoras do culto moderno. Preocupado com o Jansenismo, que abalava, com sua doutrina, a crença no amor de Deus aos homens, São João Eudes, em 1670, instituiu a Missa e o Ofício do Sagrado Coração de Jesus, para uso particular na congregação que fundara.
Pouco depois, em 1675, aconteceram as aparições do Sagrado Coração de Jesus à religiosa mais tarde canonizada Margarida Maria Alacoque, em Paray-le-Monial, na França. Segundo a vidente, Jesus mostrou-lhe o coração no 2.o domingo depois de Pentecostes e pediu-lhe que estabelecesse uma festa do Sagrado Coração na primeira sexta-feira depois desse domingo. O culto a partir dessas aparições foi sendo, pouco a pouco, difundido por toda a França e, em seguida, em outras nações européias. Em 1765, o Papa Clemente XIII aprovou a festa e o ofício do Sagrado Coração e, em 1856, o Papa Pio IX estendeu-a à Igreja universal.
A partir da Revolução Francesa, no final do século XVIII, a devoção ao Coração de Jesus passou a ser a característica dos católicos ultramontanos, que proclamavam a autoridade da Santa Sé contra as doutrinas dos jansenistas e dos galicanos.
Na segunda metade do século XIX, a devoção ao Coração de Jesus foi o símbolo mais expressivo do catolicismo romanizado, uma nova forma de vivência da fé católica, que tinha como características principais o conhecimento da doutrina católica, com ênfase no comportamento moral; a prática sacramental; e uma forte vinculação à Igreja institucionalizada. Essa devoção enfatizava a responsabilidade pessoal de cada cristão no desígnio salvífico de Deus, e, ao mesmo, ressaltava a necessidade de se reparar, com obras espirituais, os pecados cometidos pelos outros seres humanos, o que se dava particularmente com a comunhão reparadora em nove primeiras sextas-feiras de cada mês.
A devoção ao Coração de Jesus foi-se difundindo cada vez mais, principalmente nas camadas populares, passando a ser uma característica do bom cristão e enfatizando a humanidade misericordiosa de Jesus.
Hoje, vivemos em um novo contexto sócio-político-econômico-social-religioso, diferente daqueles contextos em que a devoção ao Sagrado Coração de Jesus apareceu, desenvolveu-se e difundiu-se. Assim, devemos nos perguntar em que essa devoção nos ajuda a viver a experiência de Jesus Cristo no mundo em que vivemos, no qual a globalização é uma realidade, é crescente a injustiça social e a miséria do povo, a dignidade humana é ignorada, a erotização domina as relações humanas e valores antes tidos como universais, como o respeito, a paz, a amizade, a compreensão, a caridade, a família, a justiça, o direito, estão pervertidos.
A nossa devoção ao Sagrado Coração de Jesus deve-nos levar a uma experiência concreta com Cristo, realizada mediante o amor e a observância dos seus ensinamentos, que nos encaminha, sempre, a uma relação mais humana, mais fraterna, mais amorosa e misericordiosa com todos os seres humanos, sem qualquer tipo de discriminação social, cultural, étnica ou religiosa. A nossa devoção ao Sagrado Coração de Jesus deve-nos tornar cada vez mais semelhantes a Jesus, deve-nos levar a ser imitadores das suas ações amorosas e misericordiosas, deve-nos transformar em homens e mulheres novos e ativos na construção de um mundo mais justo e fraterno. Se assim, não for, a nossa devoção não tem razão de ser.
Na Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, peçamos ao Senhor que nos transforme em verdadeiros cristãos: “Jesus, fazei o nosso coração semelhante ao vosso!”.

1.o/06/2002

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